Há alguns dias atrás, escrevemos um artigo dando uma palhinha sobre o Value Averaging, uma das fórmulas estratégicas de investimento passivo no mercado de ações mais eficientes que se tem notícia, mas pouco divulgada no Brasil – o que é extremamente lamentável. Dando sequência à saga, vamos agora nos debruçar sobre o conteúdo desse excepcional livro estrangeiro de investimentos. 😀
Informações técnicas
Autor: Michael E. Edleson
Número de páginas: 234
Preço: US$ 19,95
Introduction
Edleson explica que o valor médio – value averaging, ou simplesmente VA – é uma modalidade de fórmula estratégica. E fórmula estratégica é qualquer plano pré-determinado que irá “mecanicamente” guiá-lo no investimento. Temos já nessa introdução uma breve descrição do VA: sua fórmula básica consiste em investir uma quantia fixa qualquer para fazer o valor dos ativos em sua posse aumentar em um montante pré-determinado por cada período de investimento (mensal, bimestral, trimestral, anual, bienal etc.). O artigo anterior explica melhor essa noção, com tabelas ilustrativas.
1. Market Risk, Timing, and Formula Strategies
São feitas considerações sobre a relação risco/retorno dos mercados de ações norte-americanos, em diferentes períodos de tempo, bem como demonstrado que investimentos passivos (passive investing), do qual o VA é uma das espécies, podem ter melhor desempenho que investimentos ativos, na medida em que eles – investimentos passivos – não tendem a bater o mercado, mas sim sobreviver a ele e terminar com um prêmio satisfatório para o grau de risco em que incorrem.
2. Dollar Cost Averaging Revisited
A estratégia do custo médio em dólares (DCA) se baseia numa regra simples: invista a mesma quantia de dinheiro em cada período de tempo, independentemente do preço. Seus dois benefícios são: primeiro, é simples e fácil de aplicar, e, segundo, ele aumenta a taxa de retorno do investimento, proporcionando uma diversificação temporal.
O autor descreve também uma modalidade alternativa de investimento passivo, que consiste no constant share (CS). Essa fórmula se dá basicamente em comprar uma ação – ou conjunto de ações – no mercado, independentemente do preço do mercado. Por exemplo, comprar todo mês 10 cotas de PIBB, ou 10 ações da PETR4, todo mês. Comparando-se o DCA com o CS, verificou-se que o DCA apresenta retornos superiores.
A parte mais interessante desse capítulo é a descrição dos problemas a longo prazo que o DCA pode apresentar. Não faz sentido uma fórmula de preço médio baseado na mesma quantia fixa de dinheiro pelo período inteiro. Isso porque R$ 100 hoje valem muito mais do que R$ 100 daqui a 10, 20 ou 30 anos.
A primeira solução que vem à mente, então, é: ajustar a quantia fixa investida periodicamente de acordo com a inflação. Mesmo assim o problema persiste, porque o mercado de ações cresce muito mais do que as taxas de inflação – lembre-se que, no Brasil, por exemplo, o IBovespa tem tido um ganho de 8% a.a. acima da inflação. Agora, multiplique isso pelos juros compostos e você terá uma breve noção da importância de o seu investimento acompanhar o crescimento do mercado de ações…
Devido a essa falta de crescimento, o DCA com o passar do tempo “evapora”, perde o sentido, na medida em que o dinheiro novo investido vai ficando cada vez mais insignificante devido à corrosão da inflação e ao próprio crescimento do mercado. A solução, então, é fazer com que a fórmula de investimento acompanhe o crescimento do mercado, aumentando as quantias de investimento fixas periodicamente.
3. Value Averaging
Como já dissemos anteriormente, o foco dessa estratégia é o valor investido, ao invés do custo do investimento. Isso proporciona, desde já, um fenômeno interessante: se o mercado se aquece muito, e as ações se valorizam, o investidor é obrigado a vender parte de suas ações, para manter o valor investido “dentro dos trilhos”, fato esse que não ocorre com o DCA.
Disso resulta uma conclusão interessante: o VA apresenta uma peculiar característica de timing de mercado, ao sinalizar a venda de ações, e isso com base apenas em parâmetros puramente objetivos, isto é, mecânicos.
O autor fez uma série de estudos comparativos entre o DCA, VA e CS, usando amostras de dados do mercado norte-americano, por extensos períodos de tempo, chegando à conclusão de que o VA apresenta o melhor desempenho dentre os 3, ou seja, rentabilidade superior.
Para que essa estratégia seja eficiente, no entanto, é preciso também fazer com que o valor investido não seja corroído pela inflação, e que acompanhe igualmente o fenômeno de crescimento do mercado de ações, no longo prazo.
4. Investment Goals with Dollar Cost Averaging
O material apresentado nesse capítulo é complexo, uma vez que contém fórmulas matemáticas de como elaborar um plano de investimentos usando o DCA, de modo que acompanhe tanto o crescimento do mercado, quanto supere as taxas de inflação, no período considerado. Duas lições extraídas desse capítulo são: primeira, aumentar a quantia fixa de cada período de investimento, a fim de acompanhar o crescimento do mercado e superar a inflação; e, segunda, diminuir o nível de risco no investimento à medida que a meta do investimento se aproximar no tempo, ou seja, quanto mais perto você estiver do final do período de investimento, transferir parcela do patrimônio para investimentos mais seguros.
5. Establishing the Value Path
Mais um capítulo técnico, com descrição de fórmulas matemáticas para construir um direção, ou um caminho, de valor, uma vez que o VA requer um “valor-alvo” para você cumprir em cada ponto no tempo. Felizmente, no site da Wiley, o autor disponibiliza para download as planilhas que são demonstradas no livro, para que você faça suas próprias simulações e projeções.
6. Avoiding Taxes and Transaction Costs
Embora evitar os impostos e outros custos de transação não devam ser a finalidade principal na elaboração de um plano de investimentos, eles devem ser considerados na construção da estratégia. Uma das alternativas possíveis para um melhor planejamento fiscal é o uso de contas de investimentos com pagamentos diferidos de impostos, as quais, nos Estados Unidos, são conhecidas como IRA, 401(k) etc. No Brasil, o exemplo mais concreto são os planos PGBL, onde é possível transferir dinheiro entre fundos que compõem um mesmo plano, ou transferir dinheiro para outros planos – no mecanismo conhecido como portabilidade – sem pagamento de impostos sobre ganhos de capital, ao menos durante a fase de acumulação de patrimônio.
No Brasil, as vendas de ações são tributadas à alíquota padrão de 15%, para volumes superiores a R$ 20 mil no mês. Muitos podem querer usar o VA dentro de uma estratégia de acumulação de ETFs, e o problema reside no fato de justamente não haver isenção de IR para vendas desses fundos. E aí, o que fazer? O autor dá a sugestão: utilizar uma estratégia VA sem venda, ou seja, quando o valor investido superar o target, não fazer nada durante um mês, e esperar até o próximo mês para o valor investido voltar aos trilhos.
Testes realizados com uma fórmula VA sem vendas de ações demonstraram que essa modalidade de investimento apresentou resultado inferior a uma fórmula VA “pura”, com vendas ocasionais, mas ainda assim superior ao DCA.
7. Playing Simulation Games
O autor fornece as bases para a construção de jogos de simulação, para testar os resultados possíveis de se obter utilizando cada uma das fórmulas passivas de investimento: CS, DCA e VA.
8. Comparing the Strategies
Diversas simulações demonstraram que o VA tende a bater o DCA, com um desempenho médio superior a 1%, enquanto o DCA, por sua vez, tende a superar o CS em aproximadamente 0,5%. Um dado curioso foi a demonstração de que, em ambientes de extrema volatilidade, o VA tende a ter um desempenho ainda mais superior, para ser mais exato, +5,76% em relação ao DCA, e isso num cenário com o dobro de volatilidade.
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Amanhã publicaremos a segunda parte da resenha, comentando os últimos capítulos, e fazendo a conclusão final. Não percam! 😉
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Gostei muito deste livro!
Embora seja um pouquinho antigo as idéias podem se aplicar a qualquer período.
O estudo é muito bem apresentado e bem clarificado pelo autor.
E ainda é possível ter acesso as planilhas utilizadas.
Também recomendo este livro!
Parabéns pelas leituras de alta qualidade Guilherme!
Grande Abraço!
Obrigado, Henrique, pelos comentários!
De fato, os ensinamentos desse livro são atemporais. Não é à toa que é um dos clássicos da Wiley, a editora.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Oi Guilherme,
Gostei muito da matéria, e diante de tantas provas de que o VA é superior ao DCA, me vejo propenso a adotar o primeiro, já que estou começando mas não tenho renda fixa (o que dá pra juntar eu invisto (estudante é assim :S) ).
Não entendi os valores a serem preenchidos na planilha do VA:
Investment Goal -> esse eu entendi
Value Now -> quanto eu já tenho?
Periods to go — n -> tempo?
r: -> nao entendi
g: -> nao entendi
E apesar de tentar me planejar, sempre sinto que há algo faltando. No blog do Viver de Renda foi feito um planejamento inicial ‘muito’ detalhado. O planejamento tem que ser daquela forma ou voce tem alguma dica mais simples?
Meu objetivo é fazer uma poupança em ações para LP (8 – 10 anos), investindo 10-20% do salario, mas não vou ter horas por dia para me dedicar ao mercado.
Abraço apertado.
Olá, Denis, obrigado! Vc está indo muito bem, adotar o VA o quanto antes fará vc ter rendimentos superiores no futuro, pelo que foi abordado no livro do Edleson.
– Value Now: sim, é o quanto vc já tem disponível.
– n: sim, é a quantidade de tempo, expressa em meses (supondo que vc investirá todo mês uma quantia pré-determinada, p.ex., n=12, significa 12 meses de contribuição)
– r: taxa de retorno esperada ou projetada (p.ex., 1%, ou 0.01);
– g: taxa de crescimento dos seus aportes. Essa taxa é a que *não está* ilustrada no exemplo do INI do caso do Arnaldo em investimentos da Vale. Ele manteve os R$ 400 mensais desde o começo. Isso foi um erro, de acordo com a abordagem de Edleson, porque o investidor deve aumentar também o valor das contribuições, a uma taxa de crescimento que acompanhe a evolução do mercado de ações. Essa taxa é chamada de “g”.
Por exemplo, se vc começar com R$ 100 e escolher uma taxa de crescimento – growth rate (g) – de 0,5% (g = 0,5%) em um programa de investimentos mensais, depois de um ano seu investimento irá crescer para R$ 106,17; depois de 10 anos, vc poderia investir mensalmente R$ 181,94. É claro que pode ser desinteressante aumentar o valor dos aportes mensalmente, isso pode ser inconveniente.
Por isso, é de bom grado fazer outro tipo de ajuste, como aumentar o valor dos aportes a cada ano, ou outro intervalo conveniente.
Vc pode estabelecer métodos mais simples de investimentos, do q aqueles propostos pelo Viver de Renda.
Uma coisa q eu aprendi lendo o livro do Edleson é ter uma meta numérica final de patrimônio acumulado. Ter um número, p.ex., atingir R$ 100 mil, atingir R$ 500 mil, atingir R$ 1 milhão. E, a partir daí, traçar as estratégias, sempre procurando ser conservador nas expectativas de rentabilidades, tendo em vista a capacidade de aportes mensais.
Mas cuidado para não ser muito conservador, ou seja, estipular metas muito próximas a dos juros pagos pelo TD – http://www.tesouro.fazenda.gov.br/tesouro_direto/consulta_titulos/consultatitulos.asp – pq, nesse caso, valeria até mais apena investir diretamente no TD, q já oferece bons juros.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Oi Denis qual dica de livro ou estratégia para administrar uma carteira já um pouco madura em que os aportes mensais já não são, aparentemente, tão relevantes. Por exemplo aporte de 5000 numa carteira de 600000
Vinícius, o livro do Edleson também trata desse tema, em que vc já tem uma porção inicial considerável para investimentos. Se vc já tem uma meta clara a atingir – p.ex, 1 milhão – pode direcionar esse dinheiro de aportes na renda fixa, uma vez que, com uma taxa de 10% a.a. pra Selic – vc conseguiria dobrar o patrimônio, ao menos em termos nominais, em menos de 7 anos, pela regra do 72.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Achei a estrategia muito inteligente.
O melhor dela pra mim, que sou preguiçoso, é que é automática!
Já comprei o livro, agora vou atrás de dados históricos para algumas simulações.
Bela dica!
Obrigado, Franco!
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Eu já li diversas vezes este post, mas mesmo assim tive que adquirir o livro da Amazon. No total me custo 25 reais, por mais de 200 páginas e chegou em 1 mês. Vale a pena pessoal!
Denis, parabéns! Esse livro é mesmo excepcional!
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!