Atendendo ao pedido dos leitores do site, que, em recente enquete, disseram querer mais artigos sobre estratégias de investimentos em renda fixa e renda variável, vou começar a falar sobre o Value Averaging.
O conteúdo que vocês verão aqui é inédito no Brasil. Fiz uma busca por “value averaging” no Google e simplesmente não encontrei artigos em português discorrendo sobre o tema. A honrosa exceção é esse artigo aqui publicado no HC Investimentos, que faz referência ao método, e que me motivou a ir atrás do tema. Vamos ver se assim o povo se anima e começa a comentar mais sobre esses tópicos avançados de investimentos.
Bom, como o tema é complexo e exige uma certa dose de reflexão por parte do investidor, a fim de apreender os conceitos que o envolvem, resolvi dar apenas uma “palhinha” hoje, explicando sua essência através de um pequeno exemplo hipotético. Durante os próximos meses, pretendo dar continuidade à explanação dessa estratégia com os leitores. Se você quiser saber de novidades sobre o tema, mas não quer acessar o site todo dia, a maneira mais cômoda de saber das últimas novidades é assinar os feeds do site, ou então, receber as atualizações por email.
Antes de discorrer sobre o Value Averaging (VA), é preciso falar do Dollar Cost Averaging (DCA).
O DCA é uma das estratégias de investimentos mais comentadas e utilizadas por investidores individuais em ações. Consiste em aplicar, na Bolsa, periodicamente (geralmente a cada mês), uma quantia fixa em dinheiro, independentemente de o mercado estar em alta ou em baixa. Por exemplo, R$ 100 todo mês, como ilustra a tabela abaixo:
Tomem cuidado que o exemplo é apenas hipotético. No mundo real, particularmente na Bolsa brasileira, ninguém consegue comprar 21,55 ações. Ou compra 21 ou 22 ações. O que dá para comprar “quebrado” são cotas de fundos de investimentos negociadas em bancos e corretoras. Para comprovar isso, se você investe num fundo BB Ações Dividendos, por exemplo, vá no home banking e tire o extrato do fundo. Você verá que possui 134,232445 cotas.
Perceba que o foco dessa estratégia é a quantidade fixa periódica de dinheiro aportado. Faça chuva ou faça sol, lá está você a comprar R$ 100 em ações todo mês. Em fevereiro, o preço caiu, mas você conseguiu comprar 1 ação a mais com a mesma quantidade de dinheiro. E cosí la nave va…
O VA é diferente, embora seja derivado do DCA.
Conceito – o que é Value Averaging (VA)?
Em termos bem simples, VA é uma fórmula em que a regra básica consiste em, ao invés de se concentrar numa “quantidade fixa de dinheiro” (“compre R$ 100 a mais de ações a cada mês), prefere focar em “fazer o valor de as ações em sua posse crescer R$ 100 (ou qualquer outra quantia) a cada mês”. Essa é uma versão simplificada da estratégia, que será detalhada posteriormente, mas o foco é no resultado em valor, e não no custo do investimento. Não entendeu patavinas? Vamos a uma tabela hipotética para explicar melhor:
No primeiro mês, você compra 21,55 ações ao preço de R$ 4,64 cada uma, com os R$ 100.
Já no segundo mês, a ação baixou seu preço (célula B3), para R$ 4,38. O que fazer? Se fosse seguir o DCA, você simplesmente compraria mais R$ 100 em ações. Mas seu foco não está no custo fixo do investimento, mas sim no valor total de sua carteira. A sua intenção é fazer seu patrimônio em ações crescer R$ 100 a cada mês. Se, no primeiro mês, você tinha R$ 100 em ações, no segundo mês, o objetivo é completar R$ 200 em ações. Como o preço de fevereiro é de R$ 4,38, isso equivale a dizer que você deve ter em carteira 45,66 ações (célula D4), que é R$ 200/R$ 4,38.
Faça as contas. Você tem 21,55 ações em carteira. Para chegar a 45,66 ações, você precisa comprar 24,11 ações (célula E4). Como cada ação custa R$ 4,38, isso significa que você precisa desembolsar R$ 105,60. Ou seja, mais do que a quantia do mês anterior. O que equivale a dizer que você está comprando mais ações num momento de desvalorização, aportando mais dinheiro que no DCA, num momento de queda do mercado.
Perceba a diferença entre o VA e o DCA. No DCA, o target (alvo) é o custo do investimento – essa é a parcela que deve ser fixa. No VA, o target é o valor do investimento – essa é a parcela que deve ser fixa. Ambas as fórmulas se aproveitam dos momentos de queda do mercado: tanto em uma quanto em outra, é maior a quantidade de ações que se consegue comprar numa desvalorização. Mas no VA você compra mais ações: no nosso exemplo, enquanto no DCA você consegue comprar uma ação a mais, no VA você compra quase 3 ações a mais.
Bom, esse resultado já é por si intuitivo: como o mercado de ações tende a se valorizar mais no longo prazo, e, portanto, se recuperar das perdas de curto prazo, você obtém maiores retornos no VA do que no DCA porque investe mais dinheiro em momentos de baixa, sem a necessidade de desenvolver habilidades como as de market timing.
Mas o VA ainda tem um bônus adicional, em relação ao seu “concorrente” DCA: ele sinaliza momentos em que é preciso vender parte das ações, para voltar ao target inicial. O DCA simplesmente não contém esse ingrediente, ou seja, não diz quando vender. Mas isso é assunto para posts futuros…
Mas qual é a pegadinha?
Por óbvio, essa ferramenta apresenta também suas desvantagens, e elas serão detalhadas mais para frente. O importante é fixar a essência do VA, ainda que por meio de uma explicação singela. Esse método de investimentos exige mais dedicação e estudo por parte do investidor, quando comparado ao DCA, principalmente quanto às suas nuances.
Espero, com isso, ter dado o pontapé inicial para que o mundo dos investimentos no Brasil “acorde” para estratégias mais sofisticadas de operações no mercado.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Cara, gostei desse artigo. Estou curioso para entender mais do assunto. Hoje eu faço DCA em fundos do próprio banco. Abri minha conta na Link já compro TD. Quero também comprar algum ETF (PIBB? BOVA?) por lá para pagar menos de taxas de administração e essa “técnica” pode muito bem me ser bastante útil! Tenho aprendido muito com seu blog, com o HC e com o VR. Muito bom! Parabéns.
Belo Artigo Hotmar!
Muito didático. Fico aguardando ansioso a continuação.
Abraço !
Marcelo e Major, obrigado pelos comentários!
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Não conhecia o tema, obrigado pelas informações. Aguardo os demais artigos sobre esse tema!
Abraços.
Valeu, Lucas!
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
estou aproveitando este dia de jogo do Brasil para me planejar – pretendo aumentar gradativamente a exposição direta a ações via ETF no meu portifólio – e esta tática parece ser bastante promissora… mal posso esperar pela continuação!
abraço, parabéns pelo bom trabalho
Cláudio, obrigado!
Em breve, uma resenha sobre o livre Value Averaging será publicada!
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Legal esta estratégia Guilherme!
.
Recentemente o Paulo Portinho escreveu um artigo no blog dele sobre aportes dobrados, um “concorrente” do VA e do DCA, que acho que pode vir a complementar o seu artigo.
.
http://blogdoportinho.wordpress.com/2010/11/11/o-metodo-dos-aportes-dobrados-tecnicas-para-gestao-de-aportes-em-carteira-propria-e-em-fundos/
.
Abcs
Obrigado pela dica, Willy!
Quando sobrar um tempinho, pretendo fazer uma análise desse método do Paulo.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!