Todo mundo que já tenha lido algum livro de educação financeira ouviu certamente falar da “mágica dos juros compostos”. Em termos bem simples, ela traduz o fato de o dinheiro trabalhar pelo investidor: após vários anos rendendo juros após juros, o montante aplicado passa a significar uma fatia cada vez menor do total acumulado nos investimentos. O começo é que é complicado. Por exemplo, mil reais aplicado num investimento que renda 0,8% a.m., livre de impostos, trará, ao final do primeiro mês, um ganho de apenas R$ 8. Porém, à medida que o tempo passa, o montante aplicado vai ficando proporcionalmente cada vez menor, e a quantia total rentabilizada vai aumentando.
Existe um simulador online de rendimentos que eu gosto muito, que é o desenvolvido no Clube do Pai Rico, por meio desse link. Façam os cálculos: coloque R$ 1 mil, selecione “mensalmente” no tipo de aplicação, a uma taxa de 0.8 mensal, durante 20 anos. Aqui está o resultado final:
Meses —– Aplicado——-Juros/mês——Acumulado—–Juros acumulados
O patrimônio final foi de R$ 726 mil. Destes, R$ 240 mil foi o valor efetivamente aportado, que “saiu” do bolso do investidor – mais ou menos um terço do patrimônio total final. R$ 486 mil foi o montante acumulado pelos juros. Ou seja, os juros compuseram mais que o dobro do valor investido. Essa é a tal mágica dos juros compostos. Quanto maior o tempo de aplicação, e quanto maior for a rentabilidade, mais os juros trabalharão por você, diminuindo o impacto do montante que saiu do bolso do investidor.
Muito se fala da mágica dos juros compostos, da importância de se pensar no longo prazo etc. etc. etc. Mas esse é somente um dos lados da questão, e talvez não tão importante como o pessoal por aí apregoa. Tão importante quanto ele é o pesadelo dos custos compostos.
Mas o que é isso?
Simples: custos de transação. E isso engloba taxas de corretagem, emolumentos, inflação, taxas de administração, taxa de performance e tudo o mais que você imaginar e que o mercado financeiro conseguir criar para tirar de seu investimento. Vamos nos concentrar nas famigeradas taxas de administração, já que elas, sem dúvida, são as que mais pesam no bolso do investidor.
Quando eu falo da importância da minimização de custos, eu falo de uma coisa importante e que pode fazer toda a diferença na rentabilidade líquida do seu investimento, isto é, na quantia que efetivamente você receberá. Não se iludam com rentabilidades mirabolantes veiculadas em propagandas de jornais e revistas: elas contam somente parte da história. Sempre procure questionar também os custos do investimento. Essa parte, que é invisível agora, será muito visível na hora de resgatar o seu investimento, e crescerá à medida em que maior for a taxa de administração cobrada.
Infelizmente, no Brasil, são poucos os autores e blogueiros que defendem investimentos a taxas mínimas de administração. Mas é preciso alertar os leitores para esse importante componente de qualquer investimento, principalmente daqueles direcionados à aposentadoria financeira, já que, quanto maior for o prazo de aplicação, maior será o tamanho do pesadelo e o impacto dos custos no seu investimento.
Um caso prático
Estou lendo um livro muito interessante chamado “A dose certa”, de John Bogle, lendário fundador do fundo Vanguard, um pioneiro fundo de índice norte-americano, que começou replicando o S&P 500, nos EUA. Ele é autor de um livro ótimo chamado The Little Book of Common Sense Investing”, cuja resenha do Viver de Renda vocês podem ter o privilégio de ler aqui. O Bogle também é um ferrenho defensor dos investimentos de baixo custo, e mostra com dados estatísticos a importância de investir em produtos baratos.
De acordo com ele, no último meio século, o retorno nominal das ações nos EUA foi de 11% a.a., de modo que mil dólares investidos em ações desde o início valeriam hoje US$ 184.600. Mas esse é o valor bruto. É preciso descontar as taxas. E aí a sangria começa…
Considerando um custo anual médio de todas as despesas embutidas – comissões de corretagem, taxas de administração, custos de publicidade, honorários de advogado (pelo menos isso é que está no livro citado) – de 2%, o retorno líquido cairia para 9%, e o montante final a ser recebido cairia pela metade, mais exatamente, US$ 74.400.
Mas ainda tem os impostos…
Estimando o pagamento de 1,5% de impostos sobre a renda, o retorno final cairia para míseros 7,5%, e novamente o valor líquido recebido cairia – novamente pela metade, agora US$ 37 mil.
E a inflação?
Pois é, a tal da inflação. Estimando uma taxa de inflação de 4,1% a.a. no último meio século, os mil dólares inicialmente aplicados, ao invés de se converterem em US$ 184.600, despencariam para inacreditáveis US$ 5.300 em valores atualizados e corrigidos pela inflação!!!
Bogle finaliza com uma frase que me inspirou a fazer esse artigo:
“Fica claro que a maravilhosa mágica dos retornos compostos foi subjugada pela poderosa tirania dos custos compostos”.
Achei perfeita essa frase para alertar os nossos leitores: não basta o investimento ter boa rentabilidade. É preciso também ser um investimento barato. Não compartilhe os lucros de seus investimentos com seu banco, com sua corretora, com qualquer instituição financeira que seja. Abocanhe o máximo que puder de seus investimentos. Como já dissemos em outro artigo, a taxa de administração é critério fundamental para escolher um bom investimento.
Você dá duro pelo seu trabalho, certo? Pois faça seu investimento trabalhar da mesma forma. Ele deve ser um servo bom e fiel, como diz meu amigo Maurício Katayama, mas para trabalhar para o seu dono, e, até prova em contrário, o dono e maior interessado no trabalho do seu dinheiro é você mesmo.
Bogle, no mesmo livro, dá uma dica de ouro para você que quer construir sua aposentadoria: monte seu plano de investimentos de modo que “a comunidade financeira subtraia o mínimo dos retornos gerados pelo negócio”. Ele reconhece que é uma espécie de conselho egoísta, mas é a única forma de garantir que você tenha retornos justos sobre os investimentos, onde você é quem está aportando a grana. Como ele é gestor de um fundo que mantém 1 trilhão de dólares sob gestão, ele deve saber do que está falando…
Ampliando o tema: corte os custos de seus serviços financeiros
Você utiliza cartão de crédito, certo? Você também tem conta-corrente em banco, correto? Então aqui vão mais algumas dicas para você eliminar essas despesas inúteis de seu orçamento, liberando mais dinheiro para você usar da forma que quiser – inclusive para investimento:
Negocie a isenção de anuidade do cartão de crédito. Se você usa com frequência o cartão, e ainda paga anuidade, está na hora de cortar essa despesa. Se eles não o isentarem dessa tarifa, cancele e busque outro cartão. E se você não usar muito o cartão mesmo, corte o plástico da sua vida.
Exija isenção na mensalidade de serviços bancários. Muitos bancos trabalham com a seguinte sistemática: se você tiver um “X” de investimentos no banco, tem direito à isenção no pacote de tarifas mensais. Se não conseguir tal montante, use a boa e velha Conta de Serviços Essenciais, que todo banco é obrigado a disponibilizar.
Mude para uma corretora mais barata. Chega de pagar R$ 20 de taxa de corretagem + R$ 10 de tarifa de custódia + não sei quanto pra operar no Tesouro Direto + cafezinho pro corretor = o mercado está cheio de corretoras que cobram menos pelo mesmo tipo de roteamento de ordens. Basta pesquisar e comparar.
Como você pode perceber, são medidas relativamente simples que podem te fazer economizar vários reais por mês, os quais, capitalizados mensalmente e anualmente, pela mágica dos juros compostos de investimentos, te garantirão muitos reais a mais na sua conta de independência financeira. Evite, a todo custo, entrar na roda viva do pesadelo dos custos compostos, e passe a sonhar com a mágica dos juros compostos trazendo cada vez mais independência financeira para a sua vida! 😀
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Muito bacana a calculadora. Eu gosto de brincar também com a calculadora que tem no site do TD que permite vc fazer as contas com um depósito inicial + aportes mensais.
Agora, na sua simulação vc usou a rentabilidade de 0,8% a.m. Onde é possível conseguir este rendimento (descontando inflação e IR) em RF hoje em dia ?
Abraço !
Gostei do termo “custos compostos”!
Muito bom o artigo Hotmar!
No excelente livro que li, o autor também faz bons estudos mostrando os impactos dos cutos no crescimento do portfólio.
Link para o livro (em inglês):
http://www.amazon.com/Intelligent-Portfolio-Practical-Investing-Financial/dp/0470228040
Existem diversos fatores (custos compostos) a se considerar como:
1. Taxas de Administração (se houver)
2. Taxas de Performance (se houver)
3. Custos operacionais (corretagem + custódia + taxas da bolsa)
4. Imposto de Renda
5. Inflação
É muito importante manter uma planilha atualizada que reflita, além das operações de compra e venda de ativos, os custos de cada aplicação.
Calcule também o “expense ratio” do seu portfólio. Divida os custos pelo valor de compra e veja o quanto você perde de rentabilidade através dos custos.
Por exemplo, se você faz uma compra de um PIBB1 no valor de R$ 1.000,00 e tem custos no valor de R$ 10,00 você terá um expense ratio de 1% (10 / 1000). Já se a compra for de R$ 10.000,00 o expense ratio cai para 0,1% (10 / 10000).
Mantenha um olho vivo nos custos!
Grande Abraço!
Major, para conseguir 0,8% a.m. hoje em dia são poucas as aplicações disponíveis. Uma solução que o pessoal procura passar é a Bolsa, mas ela não garante, de forma alguma, 0,8% a.m. Além disso, o investimento deve ser focado em longo prazo, e ser bem diversificado.
Uma alternativa seria pesquisar um dos fundos imobiliários disponíveis no mercado. Mas há os riscos envolvidos, consistentes na variação do preço das cotas, e dos próprios aluguéis. Um caso interessante é o do Euro11: salvo engano, ele paga por mês R$ 1,36 por cota, e cada cota vale, no preço de hoje, 10/03/2010, R$ 177,98, o que daria um d.y. de 0,76%. Como o rendimento é isento de IR e de taxas, seria uma alternativa a se pensar.
O problema é que, com a previsão do mercado em SELIC batendo os 10, 11% até o final do ano, os FIIs perderiam parte de sua atratividade, ou seja, parte de seu prêmio de risco. Mas os fundos que acompanham a SELIC têm a problemática do desconto do IR, o que já não acontece com os rendimentos auferidos de FIIs.
Outra alternativa a pesquisar são titulos privados. Debêntures, p.ex. As do BNDES, prefixadas, pagam 12,74% a.a., o que, descontado o IR de 15%, daria algo em torno de 10,82 líquidos – não estou considerando a taxa de custódia nem a inflação. Porém, o juro é prefixado, e para recebê-lo, é preciso ficar com o título até o vencimento, o que torna essa opção menos atrativa quando se pensa em termos de fluxo de caixa.
E, para todos os investimentos, devemos levar em conta, claro, a inflação, que corrói ainda mais a rentabilidade líquida.
Desse modo, projetando um investimento de prazo mais longo, vejo que a melhor maneira de conseguir uma rentabilidade de 0,8% a.m. líquidos de IR e taxas, é o investimento em ações, mas sem garantias algumas de que esse investimento renda exatamente o proposto. É claro que, nesse caso, o investidor deve focalizar necessariamento o longo prazo, e aproveitar as baixas para comprar mais ações.
Henrique, muito boa a indicação do livro, bem como a “expense ratio” do portfólio. É por isso que sempre procuro, na comparação entre investimentos de mesmo teor oferecidos por diferentes instituições, aqueles que cobram menos. Aliás, ontem mesmo adquiri 2 livros da Amazon. 😀
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Boa tarde,
Sou editor do portal http://www.edufinanceira.com.br.
Gostaria de entrar em contato com o editor desse site. Tentei via tela de contato mas não estava disponível. Peço a gentileza de retornar-me com o nome, e-mail e telefone de contato.
Att.
Álvaro Modernell
Prezado Álvaro,
Obrigado pelo aviso. Já consertei a tela de contatos, e aproveitei também para atualizar todos os demais plugins associados ao blog.
Em breve irei retornar o contato. Obrigado pela participação! 😀
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Poxa Hotmar! Como estava sem tempo algum, faziam alguns meses que não vinha aqui. Estou impressionado com a qualidade do Blog. Muito bom! Esse post então… núúuuss!
Estou recebendo algumas visitas pelo seu link, portanto gostaria que me enviasse um banner do Valores Reais, para que eu coloque lá no Dinheirologia.
Quanto as medidas do banner você poderá ver aqui:
http://www.dinheirologia.com/2009/01/politica-de-parcerias-dinheirologia.html
Grande abraço!
Grande Cão Bravo! Prazer recebê-lo aqui, cara! E a fábrica de biscoitos, como anda!? 😀
Como eu não tenho banner, eu vou providenciá-lo e enviar pra vc assim q tiver pronto! 🙂
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Muito obrigado Hotmar pela detalhada resposta !
Continuarei freguês ! 🙂
Hotmar,
Eu sempre tomei muito cuidado com esse tipo de coisa. Custos acabam literalmente com o rendimento, e o pior geralmente se camuflam! Porque agente só consegue ver o rendimento, e não o custo.
No mesmo contexto, reflita comigo sobre uma coisa particularmente da bolsa…
Se eu fosse um investidor da bolsa de longo prazo, que compro todo mês uma quantia, não seria interessante comprar 99 ações no mercado fracionário, e pagar a metade da taxa (no meu caso utilizo a Link, 4,40) do que comprar um lote inteiro (9,80)?
Como não me importo nas oscilações do mercado, não preciso me preocupar com a liquidez do mercado fracionário, já que não quero vender.
Já pensou nesta possibilidade?
Abraço.
Tá ótimo o blog, infelizmente desisti do meu, porque estou em processo de término do TCC, e estou mais virado que outra coisa.
Grande Major, valeu! 🙂
Clóvis, essa sua dica de investir no fracionário, para quem compra na Bolsa visando o longo prazo, faz sentido. Eu ainda não havia pensado nessa possibilidade, e vejo que ela apresenta boas perspectivas de redução de custos, que, no caso de corretoras como a LinkTrade, significa uma baita economia de 50% nos custos de transação.
Obrigado pelos comentários! 😀 Quanto ao seu TCC, desejo sucesso!
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Clóvis Diego e Hotmar,
Comprar 99 em vez do lote padrão de 100 pra economizar 50% da corretagem não me parece uma proposta a ser seguida cegamente…
Temos q ver qual o spread do fracionário pro lote padrão e fazer as contas se isso não vai acabar saindo mais caro do q comprar no lote padrão no longo prazo…
Ou será q eu deixei de ver algo aqui? 🙂
Usa a Mycap, o lote padrão e fracionário é o mesmo valor, R$ 5 reais.
Tem razão, Spock, o spread. Acho que isso tende a diminuir com o aumento das corretoras que cobram corretagem única tanto para o lote-padrão quanto para o fracionário, como o exemplo sugerido pelo Gouvea. Nesses casos, vale mais a pena, evidentemente, o lote-padrão.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!