Aqui vai um alerta para quem acredita que aplicar dinheiro na Bolsa somente em Petro e Vale – ou qualquer outra empresa que seja considerada blue chip “do momento” – seria garantia absoluta, certa e incontestável de dinheiro no bolso a longo prazo: as empresas listadas no título desse post já foram, em algum momento da curta história da Bolsa, estrelas da Bovespa. Isso mesmo, elas eram as líderes em negociação no pregão, eram as blue chips do mercado. Dá pra acreditar?
No começo dos anos 70, quem brilhava com todo o seu glamour eram as ações do Banco do Brasil. O Gustavo Cerbasi, inclusive, conta a interessante história de seu primeiro investimento no mercado de ações, e, se eu não estiver enganado, ele foi comprar as ações do Banco do Brasil (embora provavelmente não tenha sido no começo dos anos 70, mas certamente deve ter sido guiado pela liquidez e, portanto, visibilidade do papel na Bolsa, fato, aliás, que ainda mantém, embora talvez em menos proporção que em épocas anteriores).
Na década seguinte, ou seja, nos anos 80, quem liderava as negociações no mercado de ações era a empresa Paranapanema, mineradora que atuava principalmente com o estanho. Por incrível que pareça, essa empresa chegou a atingir uma participação de 27,87% no Índice Bovespa. Só para efeitos de comparação, hoje, PETR4 e VALE5 têm um peso, cada uma, de cerca de 12% na Carteira Teórica Ibovespa!
Assustou? Pois tem mais.
Nos anos 90, foi a vez da Telebras reinar na Bolsa. Ela chegou a ter uma participação de assustadores 50,47% do Ibovespa, a maior alcançada por um único papel na história do Índice.
Há, é claro, outros inúmeros exemplos de empresas que já foram blue chips, mas hoje não são mais. Lírio Parisotto enfatizou, em sua palestra proferida numa recente edição da ExpoMoney, a sua aventura fracassada em investir em ações da Sharp e Varig em meados dos anos 80, as quais também foram, alguma vez na história, empresas blue chips.
Onde eu quero chegar
A moral da história é simples: em matéria de blue chips, nada é para sempre. Não tenha a ilusão – que muitas vezes é vendida por aí – de que “basta comprar ação da empresa tal para garantir sua aposentadoria”. Antes, faça o seu dever de casa. Verifique a validade do investimento em certas empresas. Estude-as e forme seu próprio julgamento antes de colocar dinheiro – do bolso – na Bolsa.
Não estou dizendo, em absoluto, que investir em blue chips seja mal negócio, mas sim que é preciso um mínimo de esforço intelectual para chegar à conclusão de quais empresas vale a pena investir. Devo falar, também, que você pode muito bem ser sucedido na Bolsa ao investir de forma passiva, num fundo de índice como o PIBB11 ou o BOVA11, que acompanha o crescimento das maiores empresas do mercado. É também uma forma inteligente de investir.
Para saber mais sobre o tema das blue chips, aí vai um link:
– Infomoney: dança das cadeiras: o Brasil pode ter novas blue chips futuramente?
Em suma: saiba o que está fazendo. E a melhor forma de saber se você sabe o que você está fazendo é ter respostas para a seguinte pergunta: por quê você está investido nessa empresa (ou nesse índice)? Se você disser apenas: “porque é uma blue chip”, cuidado. Na Bolsa, nada é para sempre. A blue chip de hoje pode não garantir sequer a compra da batata chips de amanhã.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Hotmar,
Realmente a economia está constantemente em mudança e é dificil ou melhor impossivel prever quais serão as grandes empresas do futuro. Obviamente que a Perobras e Vale com seu comercio de commdities essenciais está em uma melhor posição que as empresas citadas, mas a ingerencia politica, preços das comodities no mercado internacional e má administração podem comprometer a rentabilidade do negocio. Dai a importancia da diversificação e o melhor instrumento hoje em dia são os ETFs.
Abs
Que texto maravilhoso Hotmar!
Bem completo, ele toca num ponto muito importante e que venho discutindo com frequência com os mais próximos. Blue-Chips não são garantia de retorno futuro. E muito menos de performance melhor do que o índice.
Abraços!
Legal o post. Só uma “correção”: no segundo parágrafo você cita o Gustavo Cerbasi, mas creio que queira se referir ao Mauro Halfeld que cita o fato no seu livro “Investimentos”. Parabéns pelo blog!
Investimentos, concordo, diversificar é o que há em matéria de mercado de ações. A popularização dos ETFs está aí como prova dessa afirmação.
Henrique, valeu pelos comentários!
Leonardo, de fato, eu não sei se foi o Halfeld ou o Cerbasi que contou a história do investimento em ações do BB. Assim que eu tiver uma melhor certeza, posto aqui! Valeu!
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Boa tarde. A propósito desse artigo, minha dúvida é que na década de 80 apliquei alguns cruzeiros e cruzados em ações da Sharp. Acontece que a empresa faliu (isso é o que o Banco Itaú disse, mas vocês mesmos aqui estão publicando noticias dessa empresa) Só que os valores das ações foram caindo, caindo, até zerarem. Minha pergunta: existe uma forma de resgatar os valores investidos ou parte deles pelo menos?
Não.
Me assusta pensar que em uma década,as pessoas falarão isso da Petrobras,da Vale e da Ambev O_O
Excelente post!!! Apesar do investimento em fundamentos serem caracterizados pelo longo prazo, o acompanhamento deve ser constante…
Hoje eu diria que é impossível uma vale ou uma petrobras deixarem de ser blue chips… hoje… amanha é outra história… mas é um exercício desafiador pensar nesta possibilidade e nos caminhos que empresas tão fortes percorreriam…
É claro que o momento atual é outro… atualmente temos muito mais informação, regulamentação e instrumentos para uma melhor avaliação das empresas… não sei como eram os fundamentos destas blue chips do passado… enfim, valeu pelo post e pelo tema!!!
Obrigado, IR!
De fato, hoje os instrumentos de informação estão ao alcance do pequeno investidor do que décadas passadas. O importante é sempre estudar e se manter informado.
Bom artigo, só vacilou em citar o Infomoney que não tem mais credibilidade nenhuma. Me pergunto se algum investidor sério ainda lê aquilo lá. Depois que a XPerda comprou, demitiu os bons e resumiu o editorial a uma pequena sala cheia de estagiários escrevendo textos que dá dor nos olhos de qualquer pessoa com um mínimo de alfabetização. Uma pena.
Obrigado, kafran!
Quanto à Infomoney, de fato, era uma fonte bastante interessante de informações sobre o mercado quando o artigo foi publicado, 3 anos atrás. Mas faz muito tempo que não acesso ela.