Certa vez eu assisti na TV um comercial de um carro com o seguinte slogan (mais ou menos assim): “você fez por merecer”. Bom, eu não tenho aquele carro, logo, será que eu não fiz por merecer? O que está errado na minha vida? Será que se eu tiver aquele carro eu serei merecedor de meu sucesso? Já aconteceu isso com você?
Outra coisa que eu definitivamente não gosto são os comerciais de celulares. Aparelho de comunicação à distância, por definição, só deve ser utilizado exatamente nessas condições, isto é, quando as pessoas estão distantes entre si. E o que tais comerciais fazem? Separam exatamente aqueles que deveriam estar juntos! É o pai telefonando para a filha, o namorado telefonando para a namorada, a esposa falando ao telefone com o marido, o amigo telefonando para outro amigo. Se a pessoa for desatenta, estará dando preferência a falar por telefone do que falar pessoalmente, porque é isso que a propaganda nos diz e “nos ensina”.
Nessa sociedade de consumo desenfreado e exacerbado, onde predomina a falácia do “quanto mais, melhor”, é evidente que a propaganda assume papel crucial para estimular o uso desse péssimo padrão de vida. Por isso, gostei muito da entrevista que a Vicki Robin, co-autora do livro “Dinheiro e Vida”, deu para a revista Época, há uns 4 anos atrás. A revista perguntou a ela porque se consome tanto hoje em dia, ao que ela respondeu:
“Porque a cultura do consumismo vende a vergonha. Se a propaganda puder envergonhar alguém, terá um consumidor em potencial. As pessoas se envergonham de não ter algo. E correm às compras para cobrir essa vergonha imediatamente. Dessa forma, nossa cultura vende vergonha e sentimento de inferioridade. E ninguém quer ser inferior aos outros.”
Trata-se de um raciocínio inteligente e que revela de modo simples e sábio o que se passa hoje em dia. A vergonha é o sentimento que a cultura do consumismo vende e, por isso, é que tantos problemas relacionados ao hábito vício de compras excessivas surgem nos dias atuais.
A solução
Esse é um processo complexo cuja solução depende, inicialmente, da vontade da pessoa de se libertar dos vícios de consumo. Uma das primeiras medidas é evitar assistir TV. A TV vende um estilo de vida glamoroso que nos faz sentir culpados por não termos aquilo que os que estão do outro lado da telinha tem. Outra medida salutar é passar por um processo de reeducação financeira, adotando-a como um estilo de vida, conforme bem escreveu o Conrado Navarro no Dinheirama.
Se você parar de tentar impressionar os outros também conseguirá obter grandes ganhos nessa luta contra a sociedade consumista, ganhos principalmente financeiros. Adotar um estilo de vida frugal e mais simples também pode ser uma saída interessante. Fazer downshifting também se encontra na mesma linha de propósito – para saber mais sobre o que é isso, recomendo a leitura do post escrito pelo Investimentos e Finanças.
Enfim, a solução passa necessariamente por um exame individual, onde as escolhas de consumo não sejam guiadas por padrões externos de satisfação e felicidade, mas sim por um alinhamento de desejos e sonhos com seus valores e princípios, onde ter o suficiente seja o objetivo, e não ter sempre o mais. 😉
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Essa frase do seu artigo é uma das melhores que eu já li neste blog:
“A TV vende um estilo de vida glamoroso que nos faz sentir culpados por não termos aquilo que os que estão do outro lado da telinha tem.”
Pura verdade. Há exatos 4 anos eu deixei de ver TV, e quer saber o que me aconteceu?? Minha vida melhorou em todos os sentidos, e não sinto falta nenhuma, nenhuma mesmo. Se preciso for, até pago para ficar longe do tal aparelho de “entretenimento”.
Grande abraço Guilherme.
Excelente, sem palavras! Parabéns.
Willy e Luís, obrigado!
Aliás, Willy, esse negócio de TV realmente é um problemão. O estilo consumista vendido pela mídia é uma das maiores causas de problemas de endividamento nas famílias brasileiras.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Ótimo post. Menos é mais e… MELHOR!
Como disse o Willy Fog, parei com as drogas: não tenho mais TV! Resultado? Não faz nenhuma falta!
Acho que já esgotei minha cota de TV por esta vida, passei a infancia inteira grudado na telinha. Aprendi muita porcaria, mas tb muita coisa boa. Das porcarias ainda estou me livrando enquanto as coisas boas são para sempre (alguém aí lembra do “Mundo Animal”?) Saudosismo? Talvez…
Não sou xiita, porém. A TV faz parte da realidade e não adianta dar uma de avestruz. As crianças devem sim assistir TV, como devem ir à escola e brincar na rua com outras crianças. O problema é que, ao que parece, antes havia ainda alguma margem de manobra. Hj se vc sair na rua corre o risco de não voltar! Então as pessoas preferem os contatos “virtuais” pq são mais seguros…
De qq modo, o consumismo e a “vergonha de não ter” de que fala o post estão sim linkados e hj sei que sofri durante muito tempo com esse tipo de manipulação. A questão é: como resistir a uma coisa qdo TODO MUNDO À SUA VOLTA está querendo? Principalmente qd a gente tem 15 anos e quer a qq custo “se enturmar”? A juventude tem comportamento de manada e a mídia se aproveita disso. Não acredito em proibições, portanto, não vejo muita solução… O consumismo é o nosso rito de passagem contemporâneo. Muitos nunca o ultrapassam e ficam pelo caminho. Paciência.
Ótimos comentários, Franco!
o sistema capitalista é baseada nesta premissa… quanto mais, melhor…
cabe a cada indivíduo, quebrar esta premissa ao seu jeito, e valorizar o que realmente tem valor… a vida é bem melhor sem esta excessiva valorização do ter…
Faço minhas suas palavras, IR!
Não é à toa que os termos das peças publicitárias utilizam os verbos sempre no modo imperativo.
Lembro, até hoje, um operador de telemarketing argumentando para que eu não cancelasse o cartão de crédito (eu não faço compras internacionais; o limite oferecido era estratosférico, além do valor de anuidade descomunal: 03X R$ 113,20). Uma das frases dele: o senhor vai se desfazer de um cartão de alto garbo?
Mas, agora um cartão de crédito me define? Era só o que me faltava…
Realmente, Roberto, nunca tinha parado para pensar nessa utilização dos tempos verbais….
Abç