E chegamos na época das compras de final de ano! Em meio à correria para dar conta dos presentes e dos preparativos para as festas natalinas e de reveillon, você certamente já deve ter se deparado com as promoções de sorteios que shopping centers normalmente oferecem nesse período do ano. Funciona assim: você compra determinada quantia em reais das lojas do shopping e os valores comprados dão direito a cupons para concorrer a sorteio de prêmios, tais como carros, viagens etc. É claro que o título desse artigo contém uma certa dose de exagero, mas isso é para alertá-los do conteúdo que quero passar, qual seja: o de que o consumismo desenfreado não faz bem ao seu bolso e não contribui em nada para a melhora de seu bem-estar.
Encaremos a realidade dos fatos: você já reparou que os valores mínimos para ganhar os cupons estão aumentando ano após ano? Antigamente, conseguia-se trocar um cupom com compras de R$ 30, R$ 20, e até R$ 10. Hoje em dia os valores estão cada vez mais altos e astronômicos: R$ 50, R$ 100, R$ 200, até R$ 400. Pessoal, R$ 400 é quase um salário-mínimo! Percebe-se, então, que não só a vida do pequeno investidor (que não consegue baixas taxas de administração para investimento com valores pequenos) que está difícil: no mercado de promoções de shoppings, a vida do pequeno comprador também não está nada fácil.
A pergunta que se coloca, diante das tentadoras promoções de sorteios de shoppings, é: será que vale a pena não somente aumentar o valor de suas compras, mas também concentrá-las em um único local (leia-se: shoppings), apenas com a finalidade principal de ganhar um cupom – ou ganhar mais cupons – para concorrer ao sorteio de uma batedeira, digo, cafeiteira…digo, torradeira?
Quero pontuar aqui algumas reflexões sobre as desvantagens de adotar tal estratégia de compras, e alertá-los para os tremendos prejuízos que isso impacta em suas finanças pessoais, bem como em sua vida pessoal.
A primeira constatação: você compra além de suas necessidades. Coisas supérfluas passam a encher sua sacola de compras tão-somente com o objetivo de perfazer o valor mínimo necessário para ganhar um cupom. E isso não é nada saudável, pois lhe acarretará maior stress, na medida em que terá que lidar com mais bens dentro de casa, tentando achar uma finalidade para cada um desses itens – ou se convencer de achar uma finalidade, o que não é tarefa fácil. No final das contas, você terá menos dinheiro no bolso, e mais coisas em casa, incluindo coisas… supérfluas.
A segunda constatação: ao comprar apenas para aumentar a quantidade de cupons para o sorteio, você coloca a emoção acima da razão. E os marqueteiros de plantão dos shopping centers são mestres na arte de fazer isso, qual seja, de atingir em cheio a emoção das pessoas. Basta ver os lindos cartazes publicitários espalhados pelos outdoors da cidade, ou os comerciais veiculados na TV, ou ainda as propagandas encartadas em jornais e revistas: só há pessoas felizes, sorrindo, com seus maravilhosos objetos dos sorteios reluzindo como se fossem ouro. E isso numa época em que as pessoas estão com mais dinheiro no bolso – por conta do décimo-terceiro, parcela adicional de férias, bônus – e também, por via de conseqüência, mais propensas a gastar.
O pessoal do shopping também faz questão de caprichar na exposição dos próprios prêmios, colocando um grande e bonito laço vermelho em volta do carro, ou melhor, cafeteira, quero dizer, torradeira; geralmente num espaço de um corredor bem movimentado do shopping. Quem não tem pulso firme com as finanças e cabeça fria para comprar certamente atenderá o apelo de consumo.
A terceira constatação: e essa é uma das mais tristes, reside no fato de que você se alimenta de uma ilusão – a de que a sorte seria um componente indispensável para ganhar um prêmio. E não adianta vir com o argumento de que, quanto mais cupons concorrer, maiores serão as chances de ganhar o prêmio, pois sempre haverá alguém mais consumista disposto a colocar mais cupons para ganhar o brinde. O problema todo é que, quanto mais cupons a pessoa ganha, mais ela se alimenta dessa ilusão.
Está tudo errado. O prêmio deve ser a recompensa não por um processo aleatório onde você não tem controle absoluto de coisa alguma, mas sim o resultado merecido de um esforço concreto e real de trabalho e dedicação, onde – aí sim – você tem o controle total do processo.
A quarta constatação: você frustra suas expectativas legítimas para atender expectativas dos outros (lojistas e administradores do shopping). A expectativa de que falo aqui não é a de ganhar o prêmio, mas sim a relacionada às suas metas de formação de poupança, quitação de dívidas anteriores às compras de fim de ano, planejamento para os gastos do início do ano vindouro etc. Tudo isso é jogado pelo ralo quando você faz compras compulsivas, diminuindo a sua conta bancária na mesma proporção em que aumenta a conta bancária do shopping.
Agora eu pergunto: qual é a felicidade que mais importa: a sua ou a de terceiros? Tenha em mente que o dinheiro gasto nas compras que você fez a mais apenas para ter chances a mais de participar de um sorteio onde você tem chances de menos uma hora fará falta mais pra frente. Não caia numa dessas armadilhas de consumo.
O que quero dizer
Entenda bem a mensagem principal desse artigo – e se você já é um leitor freqüente desse blog, já deve tê-la captado. Não estou criticando o uso das compras em si mesmas, mas sim o abuso e o excesso delas em prol de objetivos que nada tem a ver com a melhoria de sua qualidade de vida ou com o aumento do nível de sua realização ou satisfação pessoais.
Se, com as suas compras de presentes, digamos, normais e programadas, já for possível participar de um sorteio, por meio da aquisição de um ou mais cupons, ótimo, você estará desempenhando o papel de um consumidor consciente. – a propósito, recomendo a leitura do excelente artigo escrito por Elaine Costa para o blog Dinheirama, acerca do poder do consumidor consciente. Mas não faça das compras um instrumento apenas para ganhar mais cupons de sorteio, já que a possibilidade de frustração – por não ganhar a cafeteira, digo, batedeira, quero dizer, torradeira – é grande.
Dicas para evitar compras excessivas
Para evitar cair nas armadilhas de consumo exagerado que normalmente ocorrem nessa época do ano, aqui vão algumas boas dicas para tornar seu consumo de melhor qualidade:
– estabeleça uma lista de compras e de presentes, tendo em vista as suas necessidades e o perfil da pessoa a quem você irá presentear. Tenha em mente que um bom presente não é necessariamente um presente caro, e, dentro dessa linha de pensamento, recomendo fortemente a leitura do artigo do Gustavo Cerbasi, o valor de um bom presente – artigo descoberto graças ao bom trabalho de garimpagem realizado pelo meu amigo Maurício Katayama, que referenciou o texto no Fórum Futuro Financeiro – valeu, Maurício!
– faça pesquisas de preços, inclusive na Internet: pode ser que o presente seja mais barato quando comprado pela Internet. Ainda que isso custe um cupom, a compra mais barata trará benefícios reais, concretos e imediatos, já que sairá menos dinheiro de seu bolso de modo imediato, pelo simples fato de comprar mais barato. Já para ganhar a torradeira você dependerá de uma dose extremamente grande de sorte.
– evite comprar com cheque ou cartão de crédito parcelado. Prefira o pagamento à vista com desconto, sempre negociando um bom preço para o pagamento no ato, ainda que isso custe mais tempo e mais conversa.
– comece a formação de uma poupança para você se dar o prêmio, com o dinheiro economizado com as dicas acima. Sairá muito mais barato, e valerá muito mais a pena, já que você não dependerá de sorteio algum. Você terá domínio absoluto do processo.
Por fim, lembre-se de focar naquilo que é importante. Natal e Ano Novo são momentos de celebração, de passar mais tempo com a família, de descansar, de brincar mais com os filhos, de se desligar dos problemas do trabalho e das preocupações da vida diária, de ficar acordado até mais tarde e de não precisar acordar tão cedo, de assistir a um bom filme, de ter leituras mais despreocupadas, de andar no parque. Enfim, de adotar – ainda que temporariamente – um estilo de vida mais frugal, menos concentrado em coisas e mais focado em relacionamentos. O que inclui não se preocupar com o ganho da torradeira que está sendo sorteada no shopping. Afinal, você não precisa dela para ser feliz.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus lhes abençoe!
Cabe um link para um texto mais recente publicado por este mesmo blog a respeito do significado da palavra Frugal. Palavra esta que aparece no último parágrafo.
Obrigado pela sugestão, Leonardo! 😀
Não só fiz o link para o texto sobre o que é frugalidade, como também aproveitei a revisão para corrigir alguns erros de português do texto. 😉
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
O título desse post ficou muito bom e chamativo, gostei!
Infelizmente muitas pessoas se deixam levar pela emoção e no final, gastam mais do que poderiam e não ganham o prêmio…
Abraços,
Obrigado pelas palavras, Rosana!
Certamente muitas pessoas se deixam levar pela emoção sim. O segredo é controlar os impulsos de consumo, e ser bem decidido(a) quanto ao que comprar.
Abç!